Reflexos de Narciso



Tão linda era a borboleta  vendo-se refletida na água do lago, apaixonou-se por si mesma sem desconfiar de que as coisas eram assim. Todos os dias esvoejava sobre as águas, enamorada da imagem colorida que via, namorando o que pensava ser seu par. Tornara-se feliz e jurava-se correspondida, sentia-se completa e favorecida pelas sortes todas deste mundo  não era todo mundo que havia-se em tantas alegrias conjuntas como eram as dela.

Tão confiante estava que suas patinhas pousavam na superfície da água e ela assim permanecia por horas a fio, apenas contemplando a imagem tão linda daquela companhia que imaginava estar também encarando-a nos olhos. As frágeis patinhas tocavam a água e a borboleta pensava estar tocando as patinhas da companheira. E seus dias eram tão felizes que ela às vezes esquecia-se de voar e enfeitar outros prados.

E o tempo passou e a borboleta aprendeu a passar o tempo todo parada na superfície da água, em companhia do reflexo que acreditava ser seu amor perfeito e eterno. Até o dia em que um peixe desses vulgares, que habitam lagos vulgares e exercem hábitos de vida vulgares, encontrou  na linda borboleta enamorada de si mesma  alento para a fome que sentia.