Casa


Pobre, sem estudo, mas ainda jovem, a moça invadiu o terreno e ergueu como pôde as quatro primeiras paredes. Trabalhava muito, aceitava tudo o que aparecia, mas o dinheiro era sempre pouco, muito menos do que precisava para sobreviver. A cada ano, construía mais um pouco da casa, com a ajuda de quem quer que se oferecesse. Maior parte, porém, ela mesma é que construía. Sem projeto, sem estrutura, sem qualidade – mas com a força de todos os sonhos e esperanças que era capaz de sentir. Mais de meio século depois, já doente, cansada e absolutamente sozinha, olhava triste para o resultado de tanto esforço que havia feito: a casa ficara velha sem jamais ter sido nova.