Conto de Fadas


A princesa tinha duas borboletas azuis no lugar das pupilas. Havia muitos pretendentes desejosos de cortejá-la, mas eles todos demonstravam o desejo maior de extirpar-lhe as borboletas dos olhos. Um dia, cansada de sentir suas borboletas em risco, fugiu do castelo e perdeu-se na floresta. Somente a princesa sabia dos temores e angústias que sentia enquanto perambulava, sozinha com as borboletas dentro de seus olhos, por aqueles lugares. Por muito tempo ficou perdida e chegou a pensar que morreria por ali, desfavorecida de alimentos saudáveis ou devorada por bicho qualquer.

Quando nem mais esperava por coisa qualquer que fosse boa em vida sua, ouviu o eco de uma voz rude que entoava belas canções em lugar algum no interior da floresta. Desacreditada de que pudesse haver perigo em tal atitude, caminhou com pressa em direção que pensava originar aquela voz, feliz que estava por ouvir algo tão lindo depois de dias tantos perdida e sozinha naquela floresta densa, escura e fria. Não encontrando o dono dela, entretanto, pôs-se a dançar com a alegria de uma criança e com a leveza de uma borboleta.

Tão entretida estava que nem reparou no ogro que aproximava-se. E, quando o viu, percebendo que era ele o dono da voz que a embalava, continuou dançando, com maior entusiasmo, posto que lembrara-se de histórias fantásticas entre princesas e outros seres anfíbios ou metamorfoseados em monstros. Sabia que bastava um beijo sincero para acabar com o feitiço e trazer de volta o príncipe aprisionado dentro daquele corpo estranho.

O ogro cantava e a princesa dançava, ambos olhando-se nos olhos, ambos aproximando-se lentamente e já sentindo algo totalmente novo e absurdo, mágico e sublime, indescritível e inexplicável – mas irremediável –, acontecendo entre eles. Cativavam-se.

E quando o beijo aconteceu, o ogro não virou príncipe, como todos esperavam. Em vez disso, nasceram asas na princesa – asas enormes, coloridas e delicadas. Asas de borboleta.

Sem entender direito o que acontecia, olhou para o ogro e as borboletas dos olhos dela esvoaçaram numa pergunta que somente a ele poderia ser dirigida. Em resposta, o ogro estendeu as mãos e segurou as dela – e nos olhos dele as borboletas viram-se refletidas.

E foi então que a princesa entendeu que ambos voariam juntos por lugares desconhecidos cuja existência nem precisava ser descrita, num tempo que nem carecia de marcação qualquer - pois que, para eles, única coisa que importava agora era cuidar de suas borboletas...