Rosa


Quando acordou, notou pétalas nascendo em meio aos seus cabelos. Espreguiçou-se, rasgando os lençóis e machucando-se a si própria ao esfregar os olhos para afastar o restinho de sono. O susto foi grande: havia pequenos espinhos pela extensão toda da sua pele.

A menina intuiu que virava rosa. Sabia que precisava achar, logo-logo, terreno fértil para fincar suas raízes. Um tanto confusa, temia escolher mal o local e arrepender-se depois. A transformação, porém, acelerava-se. Era preciso decidir-se o quanto antes. Saiu andando a esmo, parando em lugares que julgava ideais e que, segundos depois, pareciam terríveis para se viver até o infinito dos tempos. Era impossível decidir-se. Sentia que o tempo esgotava-se, mas não queria um lugar que não lhe fosse a satisfação completa.

Em certa noite, de repente, enquanto lutava contra o sono – já cheia de galhos e folhas, tinha medo de acordar enraizada no lugar, talvez inadequado, em que dormira –, sentiu o vento mais forte e uma chuva fina e fria caía-lhe no corpo. Olhou para o céu e viu reflexos de uma lua cheia que aparecia em frestas de nuvens. Sentiu-se tão plena que nem teve mais dúvida nenhuma: era ali o seu lugar.

Sempre soube ler as palavras todas que a natureza cantava e o vento levava para passear...