A Menina do Deserto


Aquele deserto tinha tanta sede que há muito não havia animal vivo que não houvesse fugido dali. Aquele deserto tinha tanta sede – mas tanta e tanta sede – que nem os cactos conseguiam sobreviver ali.

Os poucos homens que aventuraram-se em tentativas de atravessá-lo viram – estupefactos – suas provisões de água secarem em tempo recorde – pois que o líquido nem tinha tempo de evaporar, simplesmente secava de uma só vez. E os homens que insistiam na travessia sentiam na pele as gotas de suor sendo como que sugadas – arrancadas, extirpadas, amputadas – por um vento cheio de estranheza – um vento sedento.

Pobres dromedários... percebiam-se desidratados logo nos primeiros passos dentro do deserto. Rebelavam-se contra os homens, davam meia volta resistindo aos açoites deles, pois que sabiam-se capazes de cicatrizar feridas, mas impossível seria resistir à tamanha sequidão daquele deserto.

Oásis não havia por aquelas terras arenosas e áridas. Mesmo águas imaginárias eram sugadas pelo deserto.

Foi por isso que a menina andou em vários mundos até encontrar aquele lugar maravilhoso. Desde a primeira vez que ouviu falar dele foi que ela decidiu-se a procurá-lo. E durou muito tempo sua busca, mas a menina agora sabia que haveria-se em recompensa por toda a sua jornada.

Caminhou pelo deserto decidida a ir em frente, sair do outro lado, sem jamais voltar e nem mesmo olhar para trás. E, enquanto andava, sentia secarem as lágrimas todas que lhe brotavam dos olhos e também as outras todas que existiam dentro de si. A menina caminhava com a esperança de que aquele deserto fosse capaz de secar a sua sede.