Incômodo


Ali estava somente por ter sido convidada com excesso de gentilezas. Acontecia, às vezes – ela ser convidada para clichês quaisquer que nunca a atraíam, embora fossem deliciosa e descompromissada rotina para maioria de outros – alienados.

Gostava mesmo era de ficar trancada no quarto por eternidades. A companhia de si mesma era o que mais apreciava. Criava mundos e habitava todos eles com suas alucinações de raridade e estranheza – artista que era.

Houve, porém, o dia em que sua rotina foi transformada naquilo que jamais poderia ser compatível com o que se costuma chamar de vida. Ou melhor dizendo de verdades, desde que vida dela havia sido transformada numa rotina que nem dava mais para ser separada em dias, todos iguais que eram. Como se há tempos estivesse imóvel a observar um casulo de borboleta - parecia que nada acontecia, a não ser o tédio de mesmice.

Regras inventadas por ninguém, mas por todos seguidas feito se fosse a verdade absoluta entranhada em corações. A Mennynnah não adaptava-se a elas - incomodada. A derrota às vezes começa muito antes da luta ser necessária.

Tivesse escolhido transformar sua história em romance e é certo que seria reconhecida como artista – independente da qualidade, sendo boa ou má, da obra. Como, entretanto, enveredara por caminhos de estudos de si mesma, a busca pela Verdade do que era, diziam-na perturbada por distúrbios estúrdios e fantasiosa imaginação.

Sorte dela era saber-se diferente de tudo o que ela mesma conhecia. Sorte dela era saber-se conhecida de si mesma. Sorte maior dela, contudo, era amar o diferente em si, com todos os (auto)conhecimentos derivados dali.