Sem haver como explicar aquilo, a tatuagem doía numa infecção que parecia não ter cura. Doía demais e à noite piorava. E o homem passou a sofrer com os pesadelos terríveis que a dor lhe causava. E acordava encharcado do sangue que escorria da mulher desenhada em seu peito. E a cada noite a dor aumentava. E a cada noite os pesadelos eram mais terríveis.
O homem – olhos arregalados – não entendia o que estava acontecendo, mas não tinha forças para fazer as perguntas e raciocinar as respostas – se é que as havia ou haveria. Deixou a mulher fazer o que quisesse – e ela o beijou como nenhuma outra, e o afagou como a nenhum outro, e o amou como ele nunca antes havia sentido.
Pouco antes dos primeiros raios de sol iluminarem a cena, o homem e a mulher dos sonhos dele entrelaçaram-se – exaustos – para dormir. Horas depois, ele acordou sozinho na cama ensanguentada. A tatuagem, enfim, cicatrizara.
Desde então, todas as noites eram iguais: o pesadelo mais terrível, a dor mais insuportável, a mulher mais linda e o amor mais intenso. O homem sabia-se o mais feliz de todos: tinha encontrado a mulher da sua vida – e a encontrava de novo todas as noites – e a reencontraria por todo o resto de sua vida, pois ela estava presa em seu coração – literalmente.