Encontros


Cerca de um século mais tarde, reencontraram-se. Para a feiticeira era fácil reconhecê-lo, mesmo porque já o esperava. Para ele, mais uma vez, foi estranho. Sentia-se hipnotizado e atraído para aquela mulher como a lagarta para o casulo. Não entendia o porquê de todas as borboletas do mundo cercarem-na, servindo-lhe de tapete, transporte, cama ou refúgio, conforme fosse a necessidade dela. Era como se já a conhecesse, mesmo sem nunca tê-la visto. Era como se amasse borboletas, mesmo sem nunca ter se dado conta disso. Não sabia o que era aquilo, o que sentia, o que ela fazia com os sentidos dele, mas desejava simplesmente que nunca acabasse.

É que ele não lembrava...

O feitiço, lançado há tantos séculos que nem ela mesma era capaz de calcular quantos, fez, fazia e faria dele uma criatura errante e perdida a cada nova vida, fadado à estranheza e à solidão enquanto não a encontrasse. A cada nova vida, ele haveria de sentir-se incompleto e sem sentido enquanto não reencontrasse a feiticeira que era a única dona do seu amor.

Durante toda a sua vida, ela o esperava, o encontrava e eram felizes até que a morte – temporariamente – os separava. Durante todas as suas vidas, ele sonhou com ela, esperou pela mulher que lhe aparecia em sonhos – sufocados de asas – e realizou todos eles quando estiveram juntos de novo.

Aquele era um feitiço eterno. Aquilo era amor eterno...